A arte de sofrer por aqueles que não estão nem mesmo roendo a
unha do dedo mínimo por mim, eu tenho. Queria ser daqueles que conseguem ter um
sono tranquilo mesmo com um amor impossível entrando na sua vida. Que não
dispara indiretas amorosas e dramáticas nas redes sociais, atualizando a cada
30 segundos seu feed de notícias, além de desativar e ativar o bate-papo
repetidas vezes só pra se mostrar presente ali. Daqueles que não veem coisas
simples se tornarem hábito, como passar pela mesma rua, no mesmo horário apenas
por saber que aquela pessoa estará também ali.
Desculpe-me se você consegue prosseguir normalmente sua vida
mesmo diante do terceiro amor da sua vida nesse ano, mas eu não consigo, sou
tentado a protagonizar ceninhas de ciúme, fazendo bico como uma criança,
fechando a cara e indo embora mais cedo ou nem mesmo aparecendo em algum lugar,
isso tudo pra uma pessoa que nem mesmo sabe da minha existência, muito menos
que meu coração bate mais forte. Sinto-me obrigado a demonstrar a cada segundo
que eu tô afim, que eu quero me entregar.
Há quem diga que é falta de amor próprio, mas não, é excesso
de amor, tanto amor que tenho a necessidade de me doar o tempo todo, de
espalhar pedacinhos de mim para aqueles que por um sorriso de canto de boca, ou
coisas assim, tem chances de eu querê-lo o resto da minha vida.
Esses que me seduzem com seu jeito de falar, que me contam
sobre as aventuras na Cochinchina de anos atrás, tão entusiasticamente que eu
penso que foi ontem que tudo aconteceu. Que tem uma risada audaciosa, que me
traz uma alegria sem fim, mesmo sem motivos. Que traz muitas coisas num olhar
perdido.
Muitos vão achar que é correr risco demais. E, realmente é!
Amar é correr riscos, é estar disposto a fugir numa madrugada deixando um
bilhete dizendo “fui ser feliz!”. É não se preocupar em saber se daqui a dois
anos você ainda estará com aquela pessoa. É pensar no hoje como sendo o seu
último dia de sua vida. É entender que se um dia não estiverem mais juntos,
será o amor que te ajudará a superar a separação. É saber que os defeitos é que te atrai a
alguém, que faz a pessoa se tornar diferente e única para você.
Por que não correr o risco do amor?! Amar é como aquelas
brincadeiras “radicais” demais para as crianças, mas que elas insistem em
brincar. Sabe arrancar a ponta do dedão chutando bola? Quantas vezes isso
aconteceu com você? Doeu, não foi? Quantos dias você ficou sem brincar por
causa disso? Será que durou uma tarde pelo menos? Então, vai ficar com medo de
amar? Uma brincadeira que pode lhe causar, no máximo, um coração esfolado e
aquela ardência na hora do banho?
O negócio é ser criança! Crianças sabem amar de verdade, sem
preocupação, assumindo os riscos de possíveis quedas, esfolados e machucados.
Elas sabem que são fortes o suficiente pra aguentar tudo
isso e, acima de tudo, sabem que vale a pena. O choro veio só no final, antes
disso teve muito riso, muita alegria, muita adrenalina envolvida e é nisso que
elas se concentram. Os momentos bons são bem maiores que os ruins. E é por
esses momentos que elas não se abatem e logo ficam inteiras de novo, com um
curativo ali outro acolá, é verdade, mas logo estão prontas para brincar
novamente. E as marcas e cicatrizes que ficaram?! Isso não importa agora. É só
pra não se esquecer daquela história, daquele momento que foi bom e que dá
saudade. Seja pelo que você é hoje e será no futuro, seja pela criança corajosa
que você foi um dia: se entregue, de verdade. Ame!
ps: título do texto é um trecho da música "Pois é" da banda Los Hermanos que, por coincidencia, estava ouvindo no momento em que revisava o texto e percebia que ainda não tinha pensado num título.
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