quarta-feira, 24 de junho de 2015

Redução da maioridade penal - por que eu sou contra



Um dos assuntos polêmicos em alta é a proposta de redução da maioridade penal. Muitos a favor, outros tantos contra e eu apenas observando. É que não sou mesmo de me expressar sobre esses assuntos polêmicos já que tanta discussão sempre fica tão acalorada que perde o sentido, afinal, é difícil aceitar a opinião dos outros. Os poucos formadores de opinião que eu sigo nas minhas redes sociais, na sua maioria são contra a redução, mas nos comentários das suas postagens há muitos que concordam que deve ser reduzida, justificando sempre com as mesmas palavras: “levem eles pra sua casa, então...”, “queria ver se eles matassem alguém da sua família...”. Mesmo assim, eu ainda não concordo com a redução da maioridade penal e vou explicar os meus motivos, baseados apenas no que eu vejo e sinto, sem estatísticas e dados para comprová-los.

Eu já fui um adolescente de 16 anos e, por isso, eu sei como essa fase é complicada. Nessa idade eu sabia muito bem o que era certo e o que era errado sim, porém, não entendia as consequências das minhas ações. Um adolescente sabe o que é matar uma pessoa (argumento que quem é a favor usa muito), tanto que muitos matam. Até uma criança tem ciência do que é isso. Os adolescentes sabem que se tivessem 18 anos ou mais seriam presos, mas será que eles veem isso como algo realmente prejudicial e que os marcarão pelo resto de suas vidas? O adolescente quer desafiar tudo e todos, acham que estão acima do bem e do mal e sempre querem ter razão, depois, quando passa dessa fase entende que não era bem assim, que vamos sempre ter que obedecer a alguém, que se fizermos determinadas coisas hoje podemos não ser afetados amanhã, mas um dia isso acaba nos atingindo e pode ser tarde demais pra reverter a situação. Eu penso na minha adolescência e lembro o quanto foi importante ter meus pais e outras pessoas do bem como referências e o quanto elas me ajudaram. E penso também no perfil dos menores infratores. Será que eles têm uma família bem estruturada para serem seus espelhos? Quem é sua referência? Isso leva ao próximo motivo.

Adolescentes são seres influenciáveis. Não há muito o que falar sobre isso, basta passar em frente a uma escola no horário de saída que você verá grupos enormes de adolescentes com o mesmo tipo de roupa, o mesmo corte de cabelo e ouvindo as mesmas músicas. Basta ver uma reportagem de uma turma de menores infratores em que todos darão as mesmas respostas e justificativas iguais. Então, nem é preciso explicar mais uma vez que o contato com os “bandidões” numa prisão comum não será nada bom para os adolescentes. Sim, eu sei, a proposta é que eles fiquem em alas separadas, porém, estarão vivenciando a mesma realidade desse pessoal e o contato, mesmo que pequeno, será inevitável. Se esses adolescentes podem ser influenciados, eles precisam ser influenciados a serem homens dignos e do bem, e uma penitenciaria não é o melhor lugar para isso, ficando bem claro no próximo motivo.

Se a prisão não recupera homens formados, o que dirá de adolescentes influenciáveis? Precisamos entender que o principal objetivo de uma penitenciária é (ou deveria ser) recuperar pessoas que cometeram algum crime, mas que naquele momento representam risco à sociedade. Entretanto, é usada como um depósito de bandidos. Não poderia ser assim, já que depois de um tempo eles saem e podem viver suas vidas normalmente. Se fosse para ser encarado como um lugar para aprisionar incorrigíveis, estes deveriam viver o resto de suas vidas encarcerados e isso não acontece no Brasil. Como é dito por muitos, infelizmente, a prisão brasileira nada mais é do que uma escola intensiva da bandidagem. Sai-se hoje e volta-se amanhã por cometer um crime mais grave que o de antes e isso não será diferente com os adolescentes.

Adolescentes já pagam por seus crimes, sendo encarcerados em centros de recuperação para menores que muitas vezes oferecem condições piores que uma penitenciária para adultos. Aqui entra o único dado comprovado por pesquisa que eu me lembro: adolescentes que cometem pela primeira vez algum crime, independente de qual seja, são encaminhados para esses centros e neles ficam por três meses, já as pessoas maiores de 18 anos que são presas pela primeira vez ficam, em média, um mês preso numa penitenciária, isso se for um crime grave. Apesar disso, o número de reincidentes consegue ser bem menor nesses centros que nas prisões.

Não só os jovens que cometem crimes serão afetados com a redução da maioridade penal, todos estarão ainda mais passíveis de passar por situações constrangedoras, talvez por algo que não fez. Lembrei-me de um amigo que há um bom tempo foi abordado pela polícia e foi revistado. Na época ele estava com 16 anos, vindo da casa da tia sozinho, por volta das 19 horas e carregando uma sacola de retalhos de pano. Já havia no local outros adolescentes encostados contra a parede, então, quando ele passava os policiais o chamaram e o revistaram. Veja bem, ele tinha apenas 16 anos, não estava com um bando de outros adolescentes fazendo arruaça, era cedo ainda e carregava uma sacola dessas de supermercado com pedaços de pano, algo totalmente identificável. Se a maioridade penal fosse de 16 anos, as chances de ele ter sido levado para uma delegacia e até para uma prisão de forma injustificada, porque nós sabemos que isso acontece e não é pouco, seriam muito maiores. Talvez essa experiência para um adolescente que está habituado a viver no meio disso, seja vendo acontecer com parentes ou vizinhos, não traria nenhuma consequência, mas para ele que nunca tinha presenciado algo assim foi bem traumático.

Esses são, basicamente, os motivos pelos quais acredito que a maioridade penal não deveria ser reduzida, lembrando, mais uma vez, que são baseados apenas no que eu vejo e percebo.
Eu não sou especialista no assunto, então, não sei qual a solução para combater o aumento da criminalidade e da violência, mas sei que para qualquer adolescente a educação é fundamental e para aqueles que vivem em zonas comandadas pelo crime a assistência social é imprescindível antes que ele entre para a estatística e cometa algum crime porque depois que isso acontecer de nada adianta.
Se quiser saber mais sobre e opiniões de gente que entende do assunto veja aqui, aqui e aqui.
E qual é a sua opinião? A maioridade penal deve ser reduzida? Por quê? Conta pra gente.

Ps: comentários ofensivos e desrespeitosos não serão aceitos

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Se não é uma carta, é um desabafo



Não são nem 11 horas da noite de um sábado e eu já estou embriagado. Sim, logo eu, que prefiro a sobriedade e a certeza de estar entendendo tudo o que acontece em torno de mim, estou embriagado. Na verdade, eu que adoro a sobriedade, ironicamente também adoro os exageros e nem estou tonto assim, bebi uma taça de vinho apenas (foi cerveja, mas vinho é poético), e meu limite é duas taças, conseguiria tranquilamente degustar mais uma antes de sair à procura de um lugar para descansar. Consigo até escrever isso que eu adoraria chamar de carta (também porque acho poético!), mas nem sei se isso que escrevo, de fato, é uma ou essa palavra “carta” só é usada para escritos à caneta, em um papel e entregado por um carteiro ou por um melhor amigo, então chamarei de desabafo e esse desabafo é a mais pura verdade. Sóbria e sem exageros.
 Resolvi usar da bebida como desculpa para chacoalhar meu cérebro e estômago e vomitar, deixar jorrar aqui todos os sentimentos e pensamentos que me cercam e que envolvam você, pela primeira vez, sem me preocupar onde isso pode respingar e qual será o cheiro daqui a algumas horas, ou dias. Eu não me preocupo porque sei que dificilmente você o lerá, e se ler não entenderá que se trata de você, ou do que você representa pra mim, que pode ser pura fantasia. Uma imagem retorcida, vista por um filtro de nome estranho, desses que se usam nas fotos encontradas em redes sociais, mas que pode ser também realmente você. Claro. Nítido. Simplesmente você, debaixo de um holofote visto por mim de longe e perto também. Você, na minha sensibilidade, quase sobrenatural, de enxergar as pessoas como elas realmente o são.
Todas essas palavras combinariam muito bem com perfeição e talvez seja isso que você está pensando - que eu te acho perfeito, mas não. Você passa longe da perfeição e isso é o que me atrai. Exatamente essa sua arrogância em relação aos seus defeitos, essa sua pouca vontade em concertá-los. Logo você que adora essas coisas de evolução pessoal consegue conviver tão bem com seus defeitos, sabe respeitá-los, nunca os menospreza como todos fazem. Você entende que eles têm o seu valor e sua beleza. E isso é irônico, como eu fui ao usar sobriedade e exageros na mesma sentença. Talvez seja essa uma das poucas similaridades que temos: essa coragem inexplicável de se contradizer sem se sentir culpado, nem sequer se sentir menor por dizer que “ama”, “odeia” e nunca “gosto” e “não gosto”. De dizer sim quando, na verdade, quer dizer não. Ir quando quer ficar. Continuar quando deveria parar. De parar quando o melhor era persistir. De tentar quando as chances se esgotaram.
Você que, mesmo tão autêntico, vestiu a fantasia do seu herói favorito e esqueceu-se de ser o que realmente é: humano fraco e indefeso, como todos os outros que estão à procura da felicidade, de se libertar das amarras que nós mesmos nos colocamos e que sequer experimenta, ao menos uma vez, seguir o seu ímpeto, seu desejo, seu coração, mesmo sabendo que ele é traiçoeiro. Quer saber, eu experimentei e gostei. Hoje quase nunca me deixo levar, sigo o meu ritmo, minha vontade.
Você que entende tão bem do sobrenatural e esquece o normal. Você que deseja o mesmo que eu, mas finge que não, mais uma vez se importando com as convenções. Você que apesar de tudo me faz sentir bem e querer sempre melhorar, você que desperta as coisas boas que muitas das vezes ficam guardadinhas na caixinha de lembranças da criança que fui um dia, aquelas coisas que infelizmente vamos guardando ao longo do caminho, mas que cabia muito bem em nossa vida.


Gostaria mesmo de entender você e te ver tão claramente como acho que posso, afinal, tudo seria mais fácil, nossas conversas de minutos se estenderiam por horas, nossa vontade seria grande o bastante para termos coragem de nos vermos, enquanto isso continuo daqui e você daí, separados por quilômetros e unidos pelas diferenças, fingindo que não me importo e você fingindo que se importa. Usando da euforia contida numa taça de vinho para justificar aquilo que eu jamais diria na minha sobriedade cotidiana.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

A vida continua ...

Quando ouvi dizer que as reticências, ou os famosos três pontinhos são usados por pessoas indecisas, que não sabem o que querem e que deixam sempre suas afirmações em aberto, eu que não queria demonstrar nada disso, mas amava usá-las, tratei logo de deixá-las de lado. Queria mostrar, mesmo com toda insegurança interna, que estava certo do que estava dizendo e logo passei a terminar minhas frases sempre com pontos finais e, se queria enfatizar, com pontos de exclamação. Interrogações?! Sempre acompanhadas por um ponto de exclamação, por que não?! Mas... Pensando bem... Acabei por deixar essas convenções de lado... Reticências pra mim é o sinal de que a vida continua.

Quantas vezes você achou que nada daria certo, que estava no fim do túnel e sem luz, que a morte estava perto, que tudo tinha acabado, que o fim era eminente, mas que, como num passe de mágica, as coisas deram certo, uma luz acendeu, você estava mais vivo que nunca e tudo estava apenas começando.
Todos, por mais fracos que sejamos ou que pensamos ser, temos essa capacidade incrível de morrer para logo reviver. Você achou que não conseguiria, sofreu, passou noites sem dormir, às vezes sem comer, mas depois, você achou uma brecha ali, alguém te mostrou outra forma, você tentou de novo e de novo e, pronto, deu certo. O vendaval que se formou na sua vida passou e tudo ficou ainda melhor. A vida continuou pra você. Continuou também para a Antônia que sofria por não ter filhos, mas que entrou na fila de adoção e veio logo dois. Continuou para o Rogério que procurava o amor da sua vida e sofria por isso, achava que felicidade mesmo só compartilhando a vida com alguém, sofreu tanto que, um dia andando de cabeça baixa por aí encontrou aquela pessoa que sempre sonhou. Continuou pro Frederico que ralou pra fazer faculdade, que vendia o almoço pra comprar a janta, que estudava com livros usados, que esteve a ponto de desistir várias vezes, mas enfim, se formou em Medicina e montou seu próprio consultório. A vida continua pra todo o mundo. Isso quer dizer que, por mais que escolhemos abolir as reticências e usarmos somente pontos finais e exclamações em nossas frases, na vida não dá pra sermos tão seguros assim, estamos sujeitos a variações de humor, de dor, de amor. Afinal, a vida continua e tudo muda. O ideal é termos sempre as reticências em mãos porque quando tudo mudar, se estivermos abertos, teremos a chance de nos reinventar e continuar, tentar mais uma vez ou começar de novo agora mais fortes e mais experientes.


A única certeza que temos é que se não continuamos é porque morremos e isso ninguém quer. De resto, somos todos indecisos, tateando no escuro que é o futuro, sem saber o que nos espera e como reagiremos, sem saber se suportaremos o amanhã e, suportando o amanhã, se teremos forças para o dia seguinte, sem saber de nada continuamos...  a vida continua...

segunda-feira, 1 de junho de 2015

"Avisa que é de se entregar o viver..."

A arte de sofrer por aqueles que não estão nem mesmo roendo a unha do dedo mínimo por mim, eu tenho. Queria ser daqueles que conseguem ter um sono tranquilo mesmo com um amor impossível entrando na sua vida. Que não dispara indiretas amorosas e dramáticas nas redes sociais, atualizando a cada 30 segundos seu feed de notícias, além de desativar e ativar o bate-papo repetidas vezes só pra se mostrar presente ali. Daqueles que não veem coisas simples se tornarem hábito, como passar pela mesma rua, no mesmo horário apenas por saber que aquela pessoa estará também ali.
Desculpe-me se você consegue prosseguir normalmente sua vida mesmo diante do terceiro amor da sua vida nesse ano, mas eu não consigo, sou tentado a protagonizar ceninhas de ciúme, fazendo bico como uma criança, fechando a cara e indo embora mais cedo ou nem mesmo aparecendo em algum lugar, isso tudo pra uma pessoa que nem mesmo sabe da minha existência, muito menos que meu coração bate mais forte. Sinto-me obrigado a demonstrar a cada segundo que eu tô afim, que eu quero me entregar.
Há quem diga que é falta de amor próprio, mas não, é excesso de amor, tanto amor que tenho a necessidade de me doar o tempo todo, de espalhar pedacinhos de mim para aqueles que por um sorriso de canto de boca, ou coisas assim, tem chances de eu querê-lo o resto da minha vida.
Esses que me seduzem com seu jeito de falar, que me contam sobre as aventuras na Cochinchina de anos atrás, tão entusiasticamente que eu penso que foi ontem que tudo aconteceu. Que tem uma risada audaciosa, que me traz uma alegria sem fim, mesmo sem motivos. Que traz muitas coisas num olhar perdido.
Muitos vão achar que é correr risco demais. E, realmente é! Amar é correr riscos, é estar disposto a fugir numa madrugada deixando um bilhete dizendo “fui ser feliz!”. É não se preocupar em saber se daqui a dois anos você ainda estará com aquela pessoa. É pensar no hoje como sendo o seu último dia de sua vida. É entender que se um dia não estiverem mais juntos, será o amor que te ajudará a superar a separação.  É saber que os defeitos é que te atrai a alguém, que faz a pessoa se tornar diferente e única para você.
Por que não correr o risco do amor?! Amar é como aquelas brincadeiras “radicais” demais para as crianças, mas que elas insistem em brincar. Sabe arrancar a ponta do dedão chutando bola? Quantas vezes isso aconteceu com você? Doeu, não foi? Quantos dias você ficou sem brincar por causa disso? Será que durou uma tarde pelo menos? Então, vai ficar com medo de amar? Uma brincadeira que pode lhe causar, no máximo, um coração esfolado e aquela ardência na hora do banho?

O negócio é ser criança! Crianças sabem amar de verdade, sem preocupação, assumindo os riscos de possíveis quedas, esfolados e machucados. Elas sabem que são fortes o suficiente pra aguentar tudo isso e, acima de tudo, sabem que vale a pena. O choro veio só no final, antes disso teve muito riso, muita alegria, muita adrenalina envolvida e é nisso que elas se concentram. Os momentos bons são bem maiores que os ruins. E é por esses momentos que elas não se abatem e logo ficam inteiras de novo, com um curativo ali outro acolá, é verdade, mas logo estão prontas para brincar novamente. E as marcas e cicatrizes que ficaram?! Isso não importa agora. É só pra não se esquecer daquela história, daquele momento que foi bom e que dá saudade. Seja pelo que você é hoje e será no futuro, seja pela criança corajosa que você foi um dia: se entregue, de verdade. Ame!



ps: título do texto é um trecho da música "Pois é" da banda Los Hermanos que, por coincidencia, estava ouvindo no momento em que revisava o texto e percebia que ainda não tinha pensado num título.